s demônios existem e talvez a primeira de suas malvadezas seja nos levar a crer que podemos controlá-los. Para dizer logo, a recomendação mais sábia a se tomar no trato com eles é bem simples e eficaz: mantenha-se longe. Aparte-se deles. Ordinariamente, evite-os. Se possível, definitivamente. Eles não virão ao seu encalço, caso não sejam procurados antes por você. Apesar deste conselho – sim, sei disso – sempre haverá gentes interessadas em contatá-los bem de pertinho. Estas afirmam que tal encontro é possível, embora seja estritamente logrado, de modo bastante particular, apenas por Iniciados em certas artes mágicas e secretas. O conhecimento daí advindo, elas seguem afirmando, conferirá grande sabedoria e poder. Infelizmente, não tenho como atestá-las aqui. Sei apenas que com tal propósito, estas gentes vasculham “curiosos tomos de ciências ancestrais”, perscrutando ali variados encantamentos, além de meios e modos de contatar e controlar Demônios. Nestes sentidos, e sabedor de que aquele conselho inicialmente deixado não valerá qualquer vintém às mentes ávidas por realizar conjuros, penso ser prudente ao menos deixar aqui o registro de prescrições medulares a serem tomadas quando alguém estiver lidando diretamente com demônios. Ei-las: primeiro, mantenha-se a uma distância segura e se certifique que eles estarão devidamente encerrados nos respectivos “círculos” aos quais foram chamados. Depois, trate-os sempre com respeito, moderada cortesia e leve firmeza, porém, evite ser autoritário. Aja como se fossem iguais a você. Em seguida, jamais caçoe deles, pois certo é que demônios temem gargalhadas e troças e que sem demora delas fugirão, mas logo voltarão, ainda mais fortes, e se vingarão de você. Algo importante, de maneira nenhuma se delongue em demasia. Seja direto, claro, fale o que quer e se despeça. Por último, lembre-se de uma vez por todas que a arte de ludibriar é a especialidade dos demônios. Assim, como muito bem nos alerta o sábio polímata Cornelius Agrippa, temos que nos precaver, pois mesmo os demônios ora controlados são capazes de nos engrupir onde quer que estejamos.
Então, tais são as prescrições para lidar com demônios. Em tempo, as mesmas são aplicáveis no trato à boa parte das pessoas.
(na imagem, cena de “El día de la Bestia”, Espanha, 1995; dirigido por Álex de la Iglesia)
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