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Posts Tagged ‘tattoo’

scribatus_letra_Estávamos num estúdio. Tatuar era o ofício dos profissionais de lá. Todos muito competentes. Alice observava a mãe ser tatuada. Intrigada, fazia interrogações e exclamações sem fim. Não dói, né? Que lindo! Já acabou? Qual cor? Que legal, mãe! Tá bonita! E assim, enquanto o tempo passava, a tatuagem tomava forma. Por assim dizer, ela ia brotando, brotando, brotando…

Aconteceu de haver ali um outro sendo tatuado. Tratava-se dum rapaz. Escolhera um par de asas. Asas de anjo, por certo. Difícil de se inferir, isto nem de longe era. Rapaz de bom gosto. Não seria sua primeira tatuagem. Contudo, de tamanho médio, aquelas asas seriam especiais. Uma espécie de destaque. A bela tattoo passaria a lhe habitar a parte posterior do pescoço. De tamanho médio, ia da nunca até o início das costas. Também lhe alcançava as laterais, como se acarinhasse parcialmente o pescoço do jovem. Enquanto a imagem era feita, o rapaz discretamente se contorcia. Franzia bastante a testa. A dor era evidente. Resignado, entretanto, ele ia resistindo. E resistindo ficou, enquanto a tatuagem ia, por assim dizer, brotando, brotando, brotando em sua pele.

Alice notou o rapaz. Viu-lhe as asas. Olhou-as, observou-as. Olhou-as de novo. Por sua vez, os tatuadores seguiam em seus trabalhos. Como já afirmado, todos muito competentes. Compenetrados, concentrados e bem atentos. Por força do ofício, circunspectos. E Alice continuava ali. Irrequieta, via aquelas tatuagens nascerem. De repente, seus olhinhos brilharam. Conheço-a bem: ela deduzira algo. Então, Alice olhou para a mãe. Com plenos pulmões, disse-lhe, apontando aquelas asas:

– É uma galinha, mãe!

Breve momento de tensão. O rapaz franziu ainda mais a testa. Já os tatuadores – dizendo novamente, profissionais experientes -, começaram a rir. Por fim, todos riram. Ufa, pensei. Não foi assim tão grave… Pouco depois, as asas ficaram prontas. Ficaram muito bonitas. Trabalho bem feito. O rapaz, ao sair, ainda demonstrava desconforto. Fora do recinto, esticou-se. Franziu mais uma vez a fronte. Percebi que, de soslaio, ele olhou para dentro da loja. Balouçou a cabeça, pôs a mão na nova tattoo e foi embora.

Agora, quedo-me em dúvida. Não sei interpretar esse gesto. Talvez o balouço seja mesmo mera consequência da dor sentida por ele… ou – quem o saberá? –, seja efeito dalgum titubeio a respeito da escolha daquela bela imagem.

wings_tattoo

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